Conhecimento

A recuperação do rio Doce

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 André de Freitas

Diretor de Programas da Fundação Renova

Quase quatro anos depois de ter sido atingido pela lama da barragem de Fundão, o Rio Doce tem apresentado sinais consistentes de que o esforço realizado para promover a melhora da qualidade de suas águas, conjugado com a capacidade de a natureza se regenerar, começa a apresentar resultados visíveis e positivos.

Sabemos que, mais do que um curso d’água, o rio é indutor de desenvolvimento econômico, social e ambiental nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Milhares de pessoas, em dezenas de comunidades, dependem de suas águas para os mais diversos tipos de atividades.

É por isso que a recuperação do Rio Doce e sua imensa bacia tem sido um dos principais focos do trabalho da Fundação Renova desde sua criação, em 2016.Essa ação sempre foi conduzida em parceria com universidades, órgãos ambientais, instituições, ONGs – e, acima de tudo, com a população de sua bacia, principal motor das nossas iniciativas.

O trabalho, compartilhado por tantas mãos,vem dando resultados.Os mais visíveis são os dados e leituras oficiais do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), em Minas Gerais, e Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), do Espírito Santo, que atestam a qualidade da água.

A água bruta do rio Doce está com os parâmetros nos mesmos patamares de antes do rompimento e é totalmente potável depois de tratada. Além disso, a pesca na parte capixaba do rio está liberada, enquanto em Minas Gerais há restrições apenas para espécies nativas, por razões preservacionistas. O monitoramento no litoral do Espírito Santo, em parceria com o Pro-Tamar, mostrou que o número de fêmeas com comportamento reprodutivo, ninhos e filhotes permaneceu o mesmo na foz do rio Doce quando comparado ao do período anterior ao rompimento. Propriedades rurais instaladas às margens do rio estão retomando suas atividades, a partir de práticas de conservação ambiental incentivadas pela Fundação Renova.

Há um imenso trabalho por trás desses indicadores. A segurança hídrica da região, por exemplo, está sendo garantida com a construção de 10 sistemas de captação alternativa de água e melhorias em 13 Estações de Tratamento de Água (ETAs). Cento e treze afluentes foram totalmente reconformados. Cerca de 355mil mudas foram plantadas na recuperação de mais de mil nascentes. Paralelamente, foi formalizado um convênio com a Unesco, com intuito de cuidar da promoção da gestão integrada dos recursos hídricos e dos ecossistemas. Cerca de 450 produtores rurais estão engajados na restauração florestal da bacia.

A Fundação Renova quer deixar um legado mais amplo para a sociedade. Deixar o rio mais saudável do que era antes do rompimento.Para isso, aproximadamente R$ 500 milhões estão sendo repassados para a expansão da rede de esgotamento sanitário e correta destinação dos resíduos sólidos nos 39 municípios impactados. É uma meta ambiciosa, mas é também o sonho de milhões de pessoas, e quando milhares de pessoas sonham e trabalham juntas, a realidade fica mais próxima.

Transformar o amanhã é uma decisão tomada hoje e em conjunto. A Fundação Renova é aliada da construção de um novo rio Doce e reafirma seu compromisso de que o trabalho, resultado de um esforço coletivo, não vai parar.

* Artigo publicado originalmente no Jornal O TEMPO, no dia 01/10/2019.

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